sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Autopsicografia - Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve
na dor lida sentem bem,
não as duas que ele teve,
mas só a que eles não têm.

E, assim, nas calhas de roda,
gira, a entreter a razão,
esse comboio de corda
que se chama coração.